A EDUCAÇÃO PREGUIÇOSA
Lemos
nos periódicos sobre jovens que se comportam de modo violento e agressivo
contra outros jovens e chegam a se machucar gravemente.
O
que aconteceu com eles que não compreendem os limites para conviver?
No
geral, esses jovens são bastante egocêntricos e heterônomos, e esperam o apoio
integral dos pais, que não os ajudam a crescer, atribuindo transgressões graves
a criancices. Por sua vez, esses pais praticam o que pode parecer um amor
imenso e incondicional, mas que é, na realidade , um “amor preguiçoso”, que
gera uma “educação preguiçosa”.
Apoiar
filhos positivamente é trazê-los para a realidade da vida em sociedade. Depois
dos 12 anos, o pensamento já aponta para a capacidade de abstrair, para pensar
em consequências, possibilidades, realidade.
Ter
filhos é um prazer , mas dá muito trabalho. Ajudá-los a compreender as
restrições da vida em sociedade e ensiná-los a conviver com outras pessoas
implica dedicação e preocupação durante todo seu desenvolvimento. Guiá-los para
que se tornem pessoas criticas e participantes de seu tempo exige conversas
demoradas sobre todos os assuntos, alguns muito difíceis, que podem gerar
desentendimentos e brigas, além da
necessidade de impor regras. Em muitos momentos é preciso discordar dos filhos,
dizer não e explicar infinitas vezes que eles não terão todos os desejos
satisfeitos. Tudo toma muito tempo e nem sempre se está com vontade de brigar,
e a preguiça depois do cansaço do trabalho adia as discussões. O mais fácil é
ceder sempre para nunca ter que suportar choro e zanga. Ceder dá menos trabalho
e não exige que abdiquemos do nosso precioso tempo de adultos para assistir a
filmes, sair com amigos, ler um livro, falar ao telefone, dormir. O adulto que
educa preguiçosamente não aceita restrições por causa dos filhos.
Criar
uma criança alimentando a ilusão de que ela pode tudo, de que é possível viver
sem nenhuma dificuldade, não é amá-la. Pelo contrário, é deixá-la crescer
convencida de que não é capaz de enfrentar nenhum problema. Sem se
responsabilizar por nada do que faz,
criar-se dependente de alguém que tome conta dela e resolva seus
impasses para sempre.
Desprezar
as aulas na escola é desperdício da capacidade de pensar, característica exclusiva
da espécie humana. Em casa deve-se valorizar a capacidade de refletir, o
conhecimento. O egocentrismo deve ser
desencorajado, pois para aprender é preciso ouvir o outro e se concentrar.
Desqualificar a escola e os professores acaba na desqualificação do próprio
filho, na descrença em sua inteligência, na sua capacidade de raciocinar, de
refletir sobre o mundo.
Consequência
da educação preguiçosa que teve – aquela que não pode perde tempo com os filhos
-, o jovem acredita que o mundo tem apenas seu tamanho, num horizonte curto.
Seus pais o impediram de perceber a grandeza de participar, junto com sua geração,
da luta por um mundo mais justo e solidário.
Dá
trabalho dizer não a um filho. É um sofrimento vê-lo chorar ou nos rejeitar
quando impomos algum limite. Mas acreditar que ele pode ouvir um não, ainda que
se irrite com isso, é confiar que ele é capaz de lidar com a realidade.
Faz
parte do prazer de ter filhos gastar tempo amoroso com eles, um tempo de
mostrar o quanto são capazes de aprender e enfrentar os desafios da vida.
Texto do
livro: Inteligência se aprende
Autor:
Patricia Lins e Silva
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