domingo, 16 de setembro de 2012

A EDUCAÇÃO PREGUIÇOSA


A EDUCAÇÃO PREGUIÇOSA

Lemos nos periódicos sobre jovens que se comportam de modo violento e agressivo contra outros jovens e chegam a se machucar gravemente.
O que aconteceu com eles que não compreendem os limites para conviver?
No geral, esses jovens são bastante egocêntricos e heterônomos, e esperam o apoio integral dos pais, que não os ajudam a crescer, atribuindo transgressões graves a criancices. Por sua vez, esses pais praticam o que pode parecer um amor imenso e incondicional, mas que é, na realidade , um “amor preguiçoso”, que gera uma “educação preguiçosa”.
Apoiar filhos positivamente é trazê-los para a realidade da vida em sociedade. Depois dos 12 anos, o pensamento já aponta para a capacidade de abstrair, para pensar em consequências, possibilidades, realidade.
Ter filhos é um prazer , mas dá muito trabalho. Ajudá-los a compreender as restrições da vida em sociedade e ensiná-los a conviver com outras pessoas implica dedicação e preocupação durante todo seu desenvolvimento. Guiá-los para que se tornem pessoas criticas e participantes de seu tempo exige conversas demoradas sobre todos os assuntos, alguns muito difíceis, que podem gerar desentendimentos  e brigas, além da necessidade de impor regras. Em muitos momentos é preciso discordar dos filhos, dizer não e explicar infinitas vezes que eles não terão todos os desejos satisfeitos. Tudo toma muito tempo e nem sempre se está com vontade de brigar, e a preguiça depois do cansaço do trabalho adia as discussões. O mais fácil é ceder sempre para nunca ter que suportar choro e zanga. Ceder dá menos trabalho e não exige que abdiquemos do nosso precioso tempo de adultos para assistir a filmes, sair com amigos, ler um livro, falar ao telefone, dormir. O adulto que educa preguiçosamente não aceita restrições por causa dos filhos.
Criar uma criança alimentando a ilusão de que ela pode tudo, de que é possível viver sem nenhuma dificuldade, não é amá-la. Pelo contrário, é deixá-la crescer convencida de que não é capaz de enfrentar nenhum problema. Sem se responsabilizar por nada do que faz,  criar-se dependente de alguém que tome conta dela e resolva seus impasses para sempre.
Desprezar as aulas na escola é desperdício da capacidade de pensar, característica exclusiva da espécie humana. Em casa deve-se valorizar a capacidade de refletir, o conhecimento. O egocentrismo  deve ser desencorajado, pois para aprender é preciso ouvir o outro e se concentrar. Desqualificar a escola e os professores acaba na desqualificação do próprio filho, na descrença em sua inteligência, na sua capacidade de raciocinar, de refletir sobre o mundo.
Consequência da educação preguiçosa que teve – aquela que não pode perde tempo com os filhos -, o jovem acredita que o mundo tem apenas seu tamanho, num horizonte curto. Seus pais o impediram de perceber a grandeza de participar, junto com sua geração, da luta por um mundo mais justo e solidário.
Dá trabalho dizer não a um filho. É um sofrimento vê-lo chorar ou nos rejeitar quando impomos algum limite. Mas acreditar que ele pode ouvir um não, ainda que se irrite com isso, é confiar que ele é capaz de lidar com a realidade.
Faz parte do prazer de ter filhos gastar tempo amoroso com eles, um tempo de mostrar o quanto são capazes de aprender e enfrentar os desafios da vida.
Texto do livro: Inteligência se aprende
Autor: Patricia Lins e Silva